Argilas em Cosméticos: Estrutura, Função e Aplicações Avançadas.
- scilabped
- 30 de jul.
- 4 min de leitura
Por Dr. Jhonatan Miguel Silva - Pesquisador principal na Sci.Lab formulações.
As argilas têm sido utilizadas desde as civilizações antigas por suas propriedades terapêuticas e estéticas, e continuam ganhando destaque na indústria cosmética moderna. Com origem mineral e composição rica em silicatos, esses materiais naturais oferecem uma ampla gama de aplicações devido à sua versatilidade funcional, segurança e apelo sustentável. Este texto aborda as principais características, tipos, funcionalidades e formas de uso das argilas em formulações cosméticas, além dos requisitos regulatórios para sua aplicação segura.

1. O que são argilas?
As argilas, ou argilominerais, são uma classe de materiais de ocorrência natural, apresentam granulação fina < 2 µm, adquirem plasticidade quando adicionado quantidades adequadas de água e endurecem quando secas ou queimadas. São constituídas de “filossilicatos” ou “aluminossilicatos” ou seja, estruturas em forma de “folhas” ou camadas de alumina e sílica [1,2].
A depender de sua estrutura as argilas podem ser classificadas em dois tipos: lamelares e fibrosas. Dentro desses dois tipos podem existir diferentes famílias a depender da organização das folhas desses silicatos [3].
Os diferentes usos das argilas dependem da sua estrutura lamelar (1:1 ou 2:1) e composição química. Em geral, apresentam grande área superficial, excelente capacidade de sorção e boas capacidades reológicas em cosméticos [2].
2. Quais os tipos de argilas usadas em cosméticos?
Para uso em cosméticos as argilas são comercializadas em diferentes cores, as quais, popularmente, são associadas a algumas aplicações específicas como: propriedades anti-idade, purificante (argila amarela), anti-acne, remoção da oleosidade da pele (argila branca), ação bactericida, calmante (argila verde). As diferentes cores ocorrem pela presença de íons estruturais, como por exemplo argilas amarelas apresentam íons de Fe3+, argilas vermelhas são ricas em Mn3+, Fe3+, Co3+ e Ti4+, argilas verdes podem apresentar Fe2+, Ni2+, entre outros íons e cores [4]. Contudo, as funções específicas das argilas estão mais associadas com sua composição do que com as cores que apresentam e vale notar que são citadas aplicações em comuns para argilas e cores distintas, veja tabela 1 retirada do trabalho de Sarruf et al [4].

São citados cerca de 30 tipos de minerais utilizados em cosméticos e os principais incluem o Caulin (Kaolin), Talco (Talc), Esmectitas (Smectites) e argila fibrosas [4].
Quais as principais funcionalidades das argilas em cosméticos?
As argilas são muito versáteis e podem ser aplicadas em cosméticos para diversos tipos de aplicações, tais como: abrasivos, absorventes/adsorventes, agentes de revestimento, agentes opacificantes e pigmentante, agentes de aumento de viscosidade, estabilizadores de emulsão, agentes de suspensão, agentes terapêuticos, diluentes, entre outras aplicações [3,4].
A depender da característica específica, esses materiais têm sido utilizados em formulações diversas. Por exemplo, minerais finamente particulados, como as esmectitas e talco, que apresentam grande capacidade de sorção, podem remover excesso de oleosidade e adsorver exsudatos e líquidos do local de aplicação. Desta forma podem ser aplicados para realizar o controle da oleosidade na pele e cabelo, na formação de meio asséptico dificultando o crescimento bacteriano e na remover gases e odores, sendo então almejado em formulações esfoliantes (sabonetes e pastas dentais), máscaras faciais, produtos para cabelos e desodorantes [4].
Além disso, esses minerais podem se aderir na superfície de aplicação e formar um filme fino que promove uma proteção da região ao meio externo, sendo utilizados em formulações “antipoluição” [4].
Um outro exemplo de propriedade e aplicação é o uso da caulinita e das esmectitas, que são materiais opacos, como componente em formulações de maquiagens em pó, tipo sombras, em formulações pastosas e batons. Além disso, apresentam também capacidade de foto proteção contra radiação UV e, alinhado com a capacidade de aderência na pele e formação de filme fino, podem agir como barreira física em formulações de protetores solares, aumentando o FSP da formulação [4].
Por fim, as esmectitas, em especial a bentonita, possui capacidade de intumescimento e pode modificar as propriedades reológicas de cosméticos auxiliando no aumento da viscosidade de algumas formulações, com máscaras faciais, por exemplo [3, 4].

Como utilizar argilas em formulações cosméticas?
Como demonstrado anteriormente, as argilas possuem múltiplas funções em formulações cosméticas. A tabela a segui resume os principais usos em formulações.

Em relação às legislações nacionais sobre o uso de argilas em cosméticos, elas são consideradas insumos. Podem ser usadas como ativos ou excipientes, desde que listadas no Rotulagem conforme RDC 7/2015 e RDC 250/2019 sobre personalização e rotulagem. Produtos com argila entram na comunicação prévia (notificação), não exigindo registro prévio se não tiverem alegações de ação medicinal.
A Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) exige que argilas condicionadas em cosméticos estejam livres de contaminação microbiológica e metais pesados, conforme padrões da RDC 79/2000 e RDC 48/2006 [5].
Importante pontuar que, no rótulo, deve incluir o nome do ingrediente em INCI na lista completa de ingredientes — conforme RDC 7/2015 e RDC 250/2019, tais como Caulim (INCI: Kaolin), Montmorillonita (INCI: Montmorillonite), Bentonita (INCI: Bentonite), em caso de dúvidas, consulte o fornecedor.
Referências utilizadas:
[1] Guggenheim, S.; Martin, R. T.; Definiton of clay and clay mineral: joint report of the AIPEA nomenclature and CMS nomencla committes. Clays and Clay Minerals, Vol. 43, No. 2, 255-256, 1995.
[2] Auerbach, S.; Carrado, K. A.; Dutta, P. K. Handbook of Layered Materials, Marcel Dekker, New York, 2004.
[3] A. López-Galindo, C. Viseras b, P. Cerezo; Compositional, technical and safety specifications of clays to be used as pharmaceutical and cosmetic products. Applied Clay Science 36 (2007) 51–63.
[4] Sarruf, F.D.; Contreras, V.J.P.; Martinez, R.M.; Velasco, M.V.R.; Baby, A.R. The Scenario of Clays and Clay Minerals Use in Cosmetics/ Dermocosmetics. Cosmetics 2024, 11, 7.
[5] S.L. Silva, J. C. N Nobre, A. D. G Freitas, H. M. C. Santos; STUDY OF THE CHEMICAL AND MICROBIOLOGICAL COMPOSITION OF CLAYS FOR COSMETIC USE IN MANAUS. Revista Foco |Curitiba (PR)| v.17.n.1|e4175| p.01-15 |2024
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